Sejam muitos vizinhos. Poucos vizinhos. Mas que os haja.
Barulhentos e desorganizados. Alegres, sérios, antipáticos e sisudos.
Gosto deles, gosto da sua existência e da nossa interacção.
Gosto de estar rodeada de pessoas. Pessoas, não. Vizinhos. Aqueles que são os meus.
Gosto do movimento. Vão, vêm, andam, passam, circulam, vivem.
Gosto do barulho. Barulho que não é ruído.
Gosto da proximidade. De olhar pela janela e ver outras janelas, outras cozinhas e outras salas. Outras vidas, outras conversas, outras pessoas.
Não preciso que me digam Bom dia, nem que olhem para mim. Basta estarem, passarem, existirem.
Os vizinhos são tudo.
São obras em casa, música até mais tarde e risos sonoros numa chamada de telemóvel.
São a cebola que falta, o livro que está esgotado e a informação que eu não encontro.
São os cães na rua, os miúdos a gritar e o último melão maduro.
São as janelas entreabertas, as conversas de circunstância, a roupa a pingar no estendal.
Os vizinhos são a peça chave em qualquer local.
Para mim, foram fundamentais no meu processo de mudança da cidade para a aldeia. Foram eles que trataram daquela ausência de barulho que se estava a tornar ensurdecedora.
Este post não é sobre a gravidade da situação, mas sim sobre o quão caricatos nós, portugueses, somos.
Valha-nos este sismo que, até ver, felizmente, não trouxe vítimas nem danos, mas trouxe tema de conversa.
Que é disto que precisamos... de falar, de opinar, de desabafar, de especular, trocar ideias e partilhar, partilhar e mais partilhar nas redes sociais um qualquer facto pelo qual todos tenhamos conhecimento.
É que estamos no Verão. O país está [grande parte dele] a meio gás, para não dizer sem gás nenhum e, como sabemos, os temas dos jornais, da rádio e da televisão estavam a ficar escassos.
Das guerras, passamos para os incêndios, esticamos um bocadinho mais o tema com Miguel Albuquerque e as férias e puff, rapidamente ficamos sem tema novamente.
Mas, como sempre, a Mãe - Natureza com toda a sua perfeição, deu-nos mais um alerta e pôs os pontos nos is, que é como quem diz, colocou tudo nos seus lugares. Presenteou-nos com um acordar diferente, a horas que não são as nossas. Ui!!! E se este tema dá pano para mangas...
Em casa, logo de manhã, entre vizinhos, colegas de trabalho [estejamos nós a trabalhar ou não], e ligamos aos pais, aos amigos, aos avós. E na mercearia, no supermercado e com quem nos cruzamos na rua.
E disputamos o 1º lugar de quem mais sentiu. E discutimos o epicentro. E a magnitude. E o número de réplicas.
Será que foi um caso isolado? Ou será que é complexo? Sim, porque entretanto já estão pares de especialistas a falar na televisão, em todos os canais, desde a madrugada. E também nós já somos especialistas no assunto. Porque estamos colados à CMTV para perceber a dimensão do rasto de destruição que, mesmo não tendo havido, passou a haver na mesma - uma árvore milenar, caída numa qualquer travessa desconhecida das ruas de Lisboa, com direito a directo, vizinhos e aparato.
Nós somos um povo caricato. Se nos mantivermos assim, estará sempre tudo certo.
Fui às Maldivas, pela primeira vez, em Setembro de 2009. Tinha acabado de casar e foi esse o destino que escolhi para a lua-de-mel [a escolha foi minha, porque o meu marido estava mais inclinado para a Indonésia].
Assim que lá cheguei, apaixonei-me pela temperatura do ar e do mar e pelas cores, que correspondem na íntegra ao que vemos nos catálogos das agências de viagens. E disse ao meu marido: um dia vou trazer cá os meus filhos. E levei! Quinze anos depois, neste mês de Agosto, voltámos ao mesmo resort, ao mesmo paraíso, capa de catálogo. De dois, passámos a quatro: eu, o meu marido e dois filhos, o Duarte, de 14 anos e o Vasco, de 10.
As Maldivas ficam no continente Asiático, que é como quem diz, para lá do fim do mundo. Como tal, a viagem [ou melhor, as viagens, porque são dois voos] é imprópria para quem tem medo de andar de avião e para os mais impacientes.
Árabes e mais árabes e alguns europeus, poucos.
O povo árabe é um povo curioso. Muito reservado numas coisas, mas muito mais livre do que nós, noutras. No aeroporto de Abu Dhabi, onde fizemos escala, vimos pessoas a circular descalças, de meias, de pantufas e com crocs douradas com sola de plataforma. As mulheres, um paradoxo: totalmente tapadas, mas maquilhadas como bonecas de cera e a fazer lives no chão do aeroporto, com o telemóvel preso a um tripé. Maços de notas, como forma de pagamento e embrulhos que mais pareciam obras de arte.
Depois de dois voos de 8 e 4 horas, respectivamente + uma escala de 4 horas em Abu Dhabi + uma viagem de speed boat de 30 minutos, chegámos ao destino. Uauu! Já não me lembrava que era assim!
A cor do mar, da areia, a vegetação, o bafo quente, a temperatura da água, a simpatia do povo. A inspiração...
Nas Maldivas, o tempo não passa. Talvez por às 06h30 ser completamente dia, com o movimento típico de qualquer local, pássaros, pessoas e sons. E, apesar de às 18h30 ser noite, o dia só termina quando nós quisermos. Que não queremos.
As Maldivas têm uma magia própria. Têm a capacidade de nos fazer esquecer que temos uma vida para além das férias. A comida, o ar, a temperatura, o mar, o cenário, o ambiente, as pessoas um pouco de todo o mundo... é tudo tão diferente que nos remete facilmente, e sem nos apercebermos, para uma vida que não é a nossa. As Madivas têm o poder de nos obrigar a fazer reset e, tal como no Ano Novo, a acreditar que no regresso vai ser tudo diferente. A internet é fraca e a ligação ao mundo exterior é pouca ou nenhuma. Na televisão, só passam canais árabes ou a CNN. Mas neste paraíso, queremos fazer uma pausa dos incêncios e da guerra.
E porque agora é Inverno, apanhámos três dias de tempestade tropical como não há memória, disseram-nos os locais. E quem se importou? Vento muito forte e chuva. Estavam 30° no ar e 32° na água. Mergulhos debaixo de chuva, que nos carregaram baterias e nos lavaram a alma.
Nadámos ao pé de raias, vimos tubarões, caranguejos e uma tartaruga enorme. Até os animais marinhos são prazerosos. Vimos centenas de casas-alugadas, nome dado aos búzios porque durante a sua vida mudam de carapaça várias vezes. Morcegos, lagartos e peixes coloridos. Pássaros ruidosos.
Nas Maldivas, não apetece ler. Só apetece escrever, filmar, fotografar. Registar tudo e mais alguma coisa. E partilhar. Provar que o que vemos nos catálogos é tão, mas tão verdade.
Só apetece conviver, perceber como se vive na Austrália, nos Estados Unidos, em Malé [capital das Maldivas], no Brasil, e até nos Açores e em Espanha. Há gente de todo o mundo. Gente a fazer Surf com 20, 30, 40 e 70 anos. Com a mesma genica e com a mesma paixão.
Mas não é só isto.
Apesar da água ser extremamente salgada, nas Maldivas não cheira a mar. E faz-nos falta.
Apesar de haver ondas nalgumas ilhas, aliás, nós fomos para uma dessas ilhas com uma onda [Lohi´s], praticamente em toda a ilha não se ouve o mar. E faz-nos falta.
Apesar de ser um destino paradisíaco, com seres-vivos diversos e vegetação , não tem a componente selvagem. E faz- nos falta.
Nas Maldivas cheira a Algarve, a turista e a férias. Cheira a fritos, a bronzeador [!!!] e a perfume.
Nas Maldivas, só se ouve o inglês e música de fundo. Nas Maldivas, há tanto cuidado em manter a ordem, que as algas são exterminadas, as folhas caídas rapidamente varridas e os cocos apanhados.
Mas já dizia Fernando Pessoa: Primeiro estranha-se e depois entranha-se.
Já não é de agora, este tema tem barbas. Mas, a verdade é que ainda não consegui arranjar um bom argumento que justifique esta questão: Porque é que as mães não nos pedem nada em troca, a não ser os malfadados tupperwares?
Não nos pedem de volta tachos, roupa, DVD´s (sou muito antiga, tenho imensos DVD´s)... mas quando se trata dos tupperwares, a conversa muda de tom e viram verdadeiros bichos!
Experimentem levar restos de casa dos vossos pais ou pedir uma destas caixinhas mágicas emprestada, e vão ver!
Desengane-se aquele que acha que é pelo valor deles. Todos temos uma noção de que não são baratos, muito menos a nova versão em vidro, em que apenas a tampa é plástico. Mas o filme repete-se até com as caixas fornecidas pelos supermercados que têm serviço de take-away, aquelas transparentes, que fecham mal e deixam verter o molho e a sopa facilmente ou as caixas de gelado, depois de usadas.
E não é um problema familiar, ou seja, cá de casa. É um problema a nível planetário, materno, mesmo! Quem tem mãe, tem guerra com a devolução dos tupperwares, ou melhor, com o atraso da mesma!
Enquanto não é feita a entrega, as mães ligam insistentemente, antecipam visitas, pressionam encontros, questionam e questionam, relembram... até conseguirem o objectivo: reaver o objecto "perdido"... em nossa casa.
Arranjei uma solução. Não é a melhor, mas é a mais eficaz, em prol da sanidade mental que envolve esta questão: papel de alumínio para tudo. Quando se trata de molho ou sopa, nada a fazer. Ficam em terra, para consumo no próprio local.
Será que quando os meus filhos sairem de casa, vou virar bicho por meia dúzia de caixas de plástico?
Ora aqui fica mais um tesourinho comum a todas as mães: falta de privacidade!
Fui mãe pela primeira vez há 14 anos e a segunda há 10.
Sempre me lembro de querer ser mãe. Achava que ia ter 8 filhos... fiquei-me pelos 2 maravilhosos rapazes.
Meiguinhos, companheiros, divertidos, improváveis, mas muito melgas da mãe desde o primeiro dia... os dois!
Onde estiveres eu estou, já dizia Pedro Abrunhosa. Onde eu estiver, o Duarte e o Vasco certamente que também estarão, no minuto a seguir!
Eu vou tomar banho... eles vão lavar os dentes.
Eu vou arrumar a cozinha... eles encostam-se à máquina de lavar loiça.
Eu vou ler um livro... eles empoleiram-se nos meus ombros.
Eu digo que vou à mercearia... ainda não abri o carro, já eles estão à porta, à espera.
Na praia... apesar do espaço disponível, é na minha cadeira que estão.
Eu vou ao quarto arrumar roupa... eles deitam-se na cama à minha espera.
Vou ao quarto deles... e vêm atrás.
E no sofá... haja espaço, que ele não é ocupado. Quanto mais agrafados a mim melhor!
Vou fazer xixi... esperam sentados à porta porque há sempre alguma coisa que não pode esperar que eu saia. Mas já foi pior. Até há bem pouco tempo, entravam por ali dentro e sentavam-se ao meu lado, comigo, sentada na sanita!
As conversas e os grupos de WhatsAppnão são de agora, nem vieram com a pandemia. Estão a crescer a olhos vistos e transformaram-se em verdadeiras recriações de Sexo e a Cidade. E o pior (ou o melhor) é que fazem parte da vida real.
As conversas do WhatsApp tornaram-se um verdadeiro clássico da geração forty e há grupos para tudo: grupos de pais, grupos de irmãos, primos e família toda, grupos de trabalho, grupos do secundário, grupos da universidade, grupos da Zumba, do ginásio, grupos do futebol, grupos dos copos, grupos de fofoca...
Fala-se de tudo e não se aprende nada. Mas ganham-se umas valentes gargalhadas, ao longo do dia. Sim, porque das 10h00 às 00h00, as notificações ultrapassam as centenas. E se estivermos a chegar ao final da semana, então este número duplica.
Nos grupos delas, fala-se de filhos, celulite, quilos a mais, protetor solar no bigode para evitar as manchas, fazem-se queixas dos maridos, partilha-se o que se vai fazer para o jantar e crises existenciais. De vez em quando, lá aparece um bombeiro nu de um calendário de 1985, um vídeo mais arrojado ou uma anedota mais apimentada.
Nos grupos deles, fala-se das miúdas de 20 anos, do que estão a beber no momento, fazem-se piadolas de tudo e mais alguma coisa e as fotografias e vídeos são aos molhos, ao ponto de terem de sair do grupo e limpar o telemóvel regularmente por falta de espaço.
Nos grupos do trabalho, a má língua é rainha! É a outra que não se cala e não deixa ninguém trabalhar, são as fotografias em jeito de Big Brother, o litle big boss que vai ser pai... as conversas paralelas que não se conseguem ter em privado. É uma que chega todos os dias às 12h00, o outro que está com má cara, o email que acabámos de receber sobre o trabalho remoto, o prémio anual ou as novas regras do banco de horas.
Os grupos da família têm o papel de verdadeiros jornais: relembram-se aniversários, informam-se mortes, anunciam-se gravidezes e nascimentos, separações e licenciaturas. Todos sabem tudo de todos, em tempo real. Já ninguém fica de fora, nem a bisavó que entretanto também já se rendeu aos encantos do WhatsApp.
Moral da história: se existe, passou a estar no WhatsApp.
Supostamente o dia de trabalho começa às 09h00. Em trabalho remoto, pico o ponto sempre uns minutos antes. Ninguém vê e estes minutos extra podem dar jeito noutra altura qualquer.
Ao final do dia, pesa-me a consciência e reponho cada minuto.
Quando dou por mim, são 09h30 e ainda ando a navegar nos sites de notícias, podcasts, fofocas e email pessoal. É uma forma descarada ou discreta de protelar a oficial entrada de trabalho de mais um dia? Mas lá entro e começo a todo o gás.
Como o meu mercado é o internacional, o WhatsApp é uma das minhas principais ferramentas. Mas... antes de começar a responder às mensagens de trabalho, a troca de piadolas no grupo, que estão a marinar desde o dia anterior, não podem esperar mais. São prioridade nesta manhã. E já lá vão mais 15 minutos bem preenchidos.
Num instante, vou à cozinha buscar um copo, o jarro de água, prendo o cabelo e, agora sim, vamos lá começar. E a máquina da roupa começa a apitar. Acabou. Vou já estender a roupa para não ficar a cheirar a humidade. São só mais uns minutos.
Preparo-me para me sentar na mesa da sala e tocam à campainha do portão. Entre calçar uns sapatos para ir lá fora, prender o cão, cumprimentar o senhor da distribuição, procurar o código da encomenda no telemóvel, dar o código ao senhor, receber a encomenda, dizer Boa tarde e até à próxima, esperar que se afaste, entrar em casa, voltar a tirar os sapatos, espreitar a encomenda, quem sabe experimentar... ufa... volto a sentar-me.
São quase 11h00. Sinto um rato no estômago. Levanto-me para descascar uma pêra e devoro-a. Não há tempo a perder. Trabalho orgulhosamente até às 12h00. Zero interrupções e a sensação de que estou num dia altamente produtivo. Já despchei uma série de coisas. Como tal, sinto que mereço sair um bocadinho mais cedo para a pausa do almoço. E saio mesmo.
O horário de regresso é às 14h00, mas está tão bom na rua que piquei o ponto na App e não resisti a voltar para a rua mais uns minutinhos. Que importância tem? Afinal de contas, toda a gente sabe que os colaboradores felizes são muito mais produtivos.
São 15h00. Levanto-me sobressaltada porque estava tão focada no trabalho que me esqueci completamente de tirar o jantar do congelador e de pôr a sopa a fazer. Não é tarde nem é cedo. Descasco os legumes e risco a sopa da lista de prioridades do dia.
Às 16h00, saio para ir buscar os miúdos à escola. São só 20 minutos de carro... para cada lado. E mais uns 10 minutos à espera, à porta da escola. Prefiro ser eu a esperar por eles. Não gosto que andem a cirandar pela rua.
São 17h00. Sinto-me cansada. Foi um dia e tanto. Atendo uma ou duas chamadas. Passo a sopa. Apanho a roupa, que entretanto ficou esquecida e já está tesa de tanto sol apanhar e ligo à minha colega do Departamento Financeiro que me tinha pedido que lhe ligasse com urgência, assim que começasse a trabalhar.
Pedi-lhe desculpa por só estar a ligar ao final do dia. Ela compreende. Possivelmente, tem tanto trabalho como eu. Estivemos uma hora ao telefone. Eram quase 18h30 quando desligámos. Foi muito bom para descomprimir do stress e perceber que ela gostou tanto do evento semestral da empresa, na semana anterior, como eu. 👀