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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

25.09.24

Nunca é sobre dinheiro

- insatisfação no trabalho


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A insatisfação no trabalho é muito difícil de gerir. A verdade, é que quase toda a gente está insatisfeita.

 

Nunca é só sobre dinheiro. Aliás, raramente é sobre dinheiro. 
É sobre a monotonia em que vives e a falta de vontade das chefias para contornarem o teu marasmo. Porque cuidar das pessoas dá trabalho. E o que é que ele pensam: assim como assim, vira o disco e toca o mesmo, e continuam sempre insatisfeitas... mais vale não mexer as águas.

Falta-lhes empatia. Aliás, falta empatia ao ser-humano, no geral, e ao mundo empresarial, em particular.

E a falta de [mais] dinheiro não mata. Só mói.

 

O que mata é o remoer das experiências que podias estar a viver e não estás.

É o cérebro a trabalhar mecanicamente. 

É a falta de criatividade.

É o mundo estar a rodar lá fora. Mas só lá fora. Porque aqui não se passa nada.

É sobre o que não estás a aprender.

Os obstáculos que não estás a superar.  

O que estás a perder. E o tempo não pára. Todos temos as mesmas 24 horas por dia, mas uns gastam-nas melhor do que outros. 

Mói, mas também mata aos poucos. Mói no coração e mata a cabeça de tantas voltas que dás, à procura de uma segunda oportunidade, que é como quem diz, uma solução ou um plano B. Algures... 

 

Eu sei, porque é exactamente isso que tenho sentido, dia após dia. Há tempo demais.

As férias já lá vão e a rotina que regressou está mais morta do que viva.
Mas também sei que pensar não basta. É preciso fazer, arriscar, querer muito e acertar. 

Não te deixes enganar. Não há coincidências. Se as há, raramente ou nunca acontecem. Só nos livros que te prometem milhões se cumprires à risca a poção que tem tudo menos de mágica. 

 

Cá por mim, não vou parar nunca. De querer. De sonhar. De pensar. De ficar insatisfeita com o que tenho. Porque é isso que me faz sentir viva. E insatisfeita, também 😳 

Basta um passo, um só. Para já não estarmos no mesmo lugar.

 

Mas no dia em que isso deixar de acontecer, é porque já não haverá amanhã.

22.09.24

A história do miúdo da Azambuja não é nossa


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📸Nuno Fox, in jornal Expresso


Estamos nos primeiros dias de aulas e as notícias não são as greves dos professores, as colocações ou falta delas.

Estamos nos primeiros dias de aulas e as notícias contam-nos a história de um miúdo de 12 anos, que alegadamente sofria de bullying, e que entrou na escola para matar. Escondeu uma faca de cozinha na mochila, vestiu o colete anti-balas do pai e esfaqueou todos os que lhe apareceram à sua frente.

 

Mas não foi uma história. Foi vida real.
E também não foi nos Estados Unidos. Foi cá.
Não foi numa das grandes cidades. Foi na Azambuja.
Não foi um terrorista. Foi um miúdo que podia ser colega dos nossos filhos. Podia ser o nosso filho.

 

Mas afinal o que é que se passa?
É que esta história não é nossa. 
Este país não é o nosso.
Esta criança não é das nossas. 
A faca. O colete anti-balas. O instalar do pânico. O magoar outros miúdos. Os sites nazis. A premeditação. Tudo isso são histórias que não são nossas.

 

O que é que não está a funcionar, para este miúdo de 12 anos chegar a este ponto?

Somos nós, pais, que andamos desatentos?

É a escola que está tão assoberbada em cumprir metas e programas que se esquece do que realmente importa?

É o desgoverno do governo? As políticas inexistentes da Internet?

Ou será de tudo um pouco?

 

Choca-me o facto de saber que podia ser noutra qualquer casa. Porque está tudo mal em todo o lado. Não é só na Azambuja.

Choca-me o facto de ver o escrutínio obcecado na forma como realmente tudo aconteceu. Faca? Colete? Horas? Quantos foram? Quantos fugiram? Quantos foram poupados?

Choca-me o julgamento em praça pública da negligência destes pais, que não viram, não perceberam, não estavam, não aconteceram. 

Quantas histórias como esta estarão para vir, directamente dos Estados Unidos para o nosso pacato Portugal?

 

13.09.24

Trabalho remoto…

a dar pano para mangas


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É caso para dizer: trabalho remoto o que andas tu a fazer! 

Se ele é bom ou mau, cada um sabe de si. A verdade é que finalmente chegou a Portugal. Mas foi precisa toda uma pandemia para as empresas terem de o aceitar. E, quarentena terminada, os colaboradores darem o grito do Ipiranga.

 

Para uns, poupa-se tempo e dinheiro. Para outros, não serve. O trabalho quer-se em equipa e reuniões à distância não são a mesma coisa. 
Para uns, já vem tarde. Para outros, devia acabar-se com isto rapidamente, porque só fomenta a perda do lado social e humano, que já está tão ameaçado. 
Mas os colaboradores acharam que tinham direito e as empresas experimentaram, que é como quem diz, foram obrigadas a adaptar-se. É que cada vez é mais difícil contratar num regime exclusivamente presencial. 
Segundo o jornal Expresso, no segundo trimestre do ano o país contabilizava 1,031 milhões de trabalhadores em trabalho remoto, 402,9 mil dos quais em regime híbrido.

 

Opiniões à parte, o trabalho remoto tem dado pano para mangas. E as questões que se têm levantado vão muito além de uma sopa ao lume, uma máquina de roupa que é estendida ou um almoço e um café mais demorados. 
Os portugueses estão a pisar o risco e, se se tratasse de um jogo de futebol, tantos e tantos já tinham levado cartão amarelo, com vista ao vermelho, caso não se atinem.

 

Uns que, em regime híbrido, não estão a comparecer no escritório nos dias estipulados. 
Outros que passaram a acumular empregos. Isso mesmo! Estão aqui e ali, ao mesmo tempo, no mesmo horário. 
Valha-nos a imaginação de cada um. Ou será que devia dizer: valha-nos o espírito de sobrevivência?
Em Portugal, ganha-se mal. Gere-se mal. Trata-se mal. E, claro, trabalha-se mal.

 

Mas a culpa é de quem? Que ela é solteira, já nós sabemos.
Mas será culpa das empresas que pagam o coro e o cabelo de impostos, para ter um colaborador com um ordenado mínimo? 
Do colaborador que perde anos de vida preso nos transportes públicos, gasta o ordenado em alimentos básicos e saúde mental na acumulação de empregos?
Ou do Estado? Que fica com os meus impostos, com os teus, com os dos colaboradores e os das empresas e que, ano após ano, continua sem arranjar soluções com dois dedos de testa?

 

Mais vale acabar o tema por aqui, ligar a televisão no telejornal e ver a guerra, a inflação ou a greve dos professores, neste início de ano letivo.

 

06.09.24

Os meus livros têm sete vidas


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Apresento-me como uma leitora compulsiva.
Gosto realmente de livros e de tudo o que com eles esteja relacionado. 
Gosto de pesquisar, de saber das novidades, conhecer novos autores e perder-me nas livrarias e nas feiras. Gosto do cheiro, dos novos e dos velhos, e de ter tempo para simplesmente os folhear.

 

Fui acumulando pilhas de livros, que me acompanharam ao longo dos anos. 
Primeiro, em casa dos meus pais. Mais tarde, na minha própria casa.
Primeiro, numa só prateleira. Mais tarde, em duas, três, num armário. No meu espaço, no espaço deles. 
Tinha cada vez mais livros e cada vez menos espaço e era obrigatório fazer qualquer coisa.

 

Experimentei as Apps de artigos usados, mas rapidamente conclui que quem tem dinheiro para uma peça de roupa em segunda mão dificilmente o tem para um livro praticamente novo. São prioridades e cada um tem as suas. 

Foi então que soube da possibilidade de doar livros ao Hospital de Santa Maria.
Comecei a pedir à família e amigos que me dessem os que estavam a mais nas suas prateleiras, aproveitei a oportunidade e li cada um deles, para depois fazer com que chegassem ao destino. 
Foram muitos. Tantos quantos aqueles que eu consegui angariar. Demais, ao ponto de não os conseguir escoar. 

 

Tinha o problema "espaço" para resolver, mas agora a dobrar. E tinha de o resolver rapidamente. Já não eram só os meus livros. Eram os meus, os teus, os dele, os dela e os deles. E mais uns e outros e gavetas e caixotes e livros em todos os buracos livres de minha casa, no porta-bagagens, nas minhas e nas estantes deles. 
Estava fora de questão deixa-los no papelão ou tentar vender novamente. 

 

Dei voltas e voltas à cabeça. Pensei nas juntas de freguesia, nas bibliotecas, nas associações, mas sabia-me a pouco. Queria mais. Queria melhor. Mais empenho da minha parte do que simplesmente encaixota-los e sair porta fora. São livros. E os livros não se tratam assim.

 

Estava de férias na Ásia, bem longe da minha realidade, foi quando me lembrei que podia ser  interessante larga-los num espaço público. Numa paragem de autocarro, no muro de uma casa, num banco de jardim, no parque de estacionamento de um supermercado, no átrio de uma igreja. Ir largando para quem os quisesse apanhar. Fosse para ler, oferecer, ou apenas folhear e deixar.

 

Já larguei mais de uma dezena. Ainda me falta uma centena. 
Não fico para ver o próximo episódio. Nem sei se tenho assim tanta curiosidade. O ser humano tem um comportamento por demais previsível. 
Só sei que quando volto ao local - se volto - o livro já lá não está. Alguém o levou. E tenho a certeza absoluta de que valeu a pena porque os que não têm interesse, passam por ele... e nem  o vêem.

 

Foi o início da história dos meus livros e das suas sete vidas.

04.09.24

Agosto maldisposto !


Black and White Bold Minimal Simple Modern Podcast

Agosto é, por norma, o mês do Verão, das férias, do país a meio gás. Todos se queixam de Agosto, mas, para o ano, continuam todos à sua espera outra vez. 
Agosto faz parar o trânsito. As escolas. As empresas. 
Agosto cheira a comida farta, a fritos, a protector solar e a perfume. Cheira a calor, a algas e a mar. 
Agosto tem o som das ondas, dos gritos dos miúdos, mas também dos graúdos. 
Agosto é assim.


Mas Agosto já era. E este ano, foi maldisposto, rezingão, sério e moralista. Lembrou-nos que as coisas não são como nós queremos, mas sim como são ou têm que ser. 
Que não há regra sem excepção e que a última palavra é sempre soberana.
Que há os que querem, os que fazem e os que podem.
E que o Sol, quando nasce, não é para todos. 

 

Gritou bem alto a palavra impotência aquando do incêndio na Ilha da Madeira. 
Sussurou-nos a imprevisibilidade quando nos acordou de madrugada com o sismo. 
Mostrou-nos que os imigrantes não são uma pedra no nosso sapato e afinal fazem falta para supervisionarem as praias. 
E que se a subida dos preços, para nós, consumidores, é um problema, para os que precisam de ganhar uns trocos na dura venda de bolas de Berlim na praia, é um problema muito maior.

 

Há uns anos, cantava-se o meu querido mês de Agosto. Mas depois deste que passou, duvido que o mote, pelo menos por cá - #oesteagreste - se mantenha.