[ainda] não vamos ficar bem
Foi há 5 anos.
Dizíamos que ía ficar tudo bem. Que íamos ser mais altruístas, mais solidários. Que passaríamos mais tempo uns com os outros e a dar mais importância ao que realmente importa.
Arco-íris nas janelas. Esperança no meio do caos e da incerteza.
Confortámos a família. Os amigos. Colegas de trabalho. Vizinhos e conhecidos. Demos o que tínhamos e o que conseguimos.
Fizemos promessas. [À distância]. Tantas quantas as que cabiam no arco-íris das nossas incertezas. Certamente, era o coração a falar. Corações apertados de quem perdeu quem mais gostava.
Conseguimos abrandar. Abrandar o ritmo. Abrandar o consumo. Abrandar o ruído. E aumentar os afectos. Aumentar os gestos e as palavras.
Faz 5 anos desde o início da pandemia. Estamos todos diferentes, mas estamos todos iguais. E [ainda] não estamos todos bem. Aliás, o mundo está louco.
Estamos a viver em piloto automático, completamente indiferentes a tudo. Esquecidos das promessas que fizemos outrora. Íamos estar mais. Mais e melhor. Só que não... Nem mais, nem melhor.
... Ignoramos a guerra. A pobreza. Está longe e nem sequer cá chegou.
Passamos o sinal vermelho. Não respeitamos a fila. Insultamos o carro da frente e todos aqueles que se atravessem no nosso caminho. Pequenino. Arrogante. Desmotivado.
Estacionamos no lugar dos mais vulneráveis. Mobilidade reduzida. Grávidas. No lugar dos mais velhos.
Chegamos atrasados. Não cumprimentamos. Não pedimos desculpa. Não agradecemos. Não sorrimos. Não vemos.
O tempo pede-nos tempo. Não temos vontade. Solidariedade. Não sabemos o que é a empatia.
Vivemos para o nosso quintalinho de coisa nenhuma.
Mas eu ainda acredito que um dia vamos todos ficar bem. Temos de ficar. Não é possível ir ainda mais fundo. Encontro esperança e inspiração em tudo. E quando não encontro, é porque tenho de voltar a olhar.
A mudança começa em cada um de nós. E eu vou continuar a fazer a minha parte.
Como diz Carla Madeira, no seu livro Tudo é Rio:
Tudo se ajeita. O tempo nunca falha nas suas habilidades.