António Variações
não um, mas "o" artista
Há uns dias fui ao teatro com os meus filhos - de 13 e 10 anos - ver umas das muitas biografias recriadas de António Variações.
Eu e o meu marido já tínhamos visto filmes e séries e, no meu caso, ainda acrescento dois ou três livros ao meu repertório.
António Variações foi um artista incrível.
A música. A indumentária. O carisma. O que fez enquanto viveu e o que nos deixou depois de morrer.
Uma pessoa absolutamente fora da caixa. Extravagante para a altura. Um artista como a Coca-Cola: primeiro estranha-se e depois entranha-se.
Mas o mais curioso é que esta ideia que temos, faz parte das percepções do passado. Da minha geração e das gerações anteriores. Porque, para os meus filhos, o António Variações já não foi assim tão diferente, tão fora da caixa e tão extravagante. Para os meus filhos, o António Variações foi só o António Variações. Um artista. Sem qualquer rótulo, estranheza, crítica.
Os meus filhos fazem-me perceber que estas gerações de agora são muito mais criativas, muito mais artistas, muito mais livres nas suas escolhas e atitudes.
Não é minimamente estranho um homem ser cabeleireiro, pintar os olhos e gostar de usar um lenço comprido ao pescoço.
Não é minimamente estranho as demonstrações de fragilidade e sensibilidade serem igualmente permitidas aos homens, nem é estranho os artistas também ser homens!
Estas novas gerações nem sabem a sorte que têm nesta sua recente liberdade de movimentos.
Porque eles podem ser, parecer e fazer, sem que a sociedade os questione. Eles são livres e, por isso mesmo, são o que querem e o que não querem. Vão muito mais longe do que alguma vez nós sonhámos ir.
Espero que, com esta geração, surjam mais e mais artistas semelhantes ao António Variações. E se forem semelhantes, já estamos no bom caminho.
Porque como ele, nunca mais vai haver nenhum.