Liceu Rainha D. Leonor
- uma magia mágica
Pelos meus pais, eu e o meu irmão teríamos andado sempre em colégios.
Com o meu irmão, foi isso que aconteceu, mas comigo, não.
Quis enviesar o percurso e no final do 9° ano, pedi-lhes para ir para o ensino público, o Liceu Rainha D. Leonor .
Sabia o que queria, não sabia o que me esperava.
Mas a ideia não surgiu do nada. Uma amiga minha da altura ia mudar para o Rainha e isso facilitou todo o processo.
Estávamos no final dos anos 90. Eu tinha 16 anos.
O Rainha foi a minha adolescência.
O Rainha era o nervoso miudinho ao chegar à escadaria da entrada e ver quem já chegou, quem nos está a ver e quem chegou e não nos vê.
O Rainha é o tempo antes do toque de entrada para as aulas.
Os intervalos no pátio e nos montes, à volta dos campos. Os intervalos em grupinhos, junto dos pilares da escola.
As filas no bar. As melhoras sandes de queijo.
O Rainha são os primeiros cigarros às escondidas e as pastilhas de mentol.
As faltas de atraso. E as de material.
Os livros na mão e o dossier forrado.
As Novaly compradas na Praça de Espanha e, mais tarde, as Levi,s 501.
O Rainha são as carteiras de madeira, com nomes e frases cravadas a caneta. Os enormes corredores de paredes verdes.
O quadro de ardósia e o giz partido em pedaços pequenos.
O Rainha é adorar as segundas-feiras e gostar menos das sextas.
É ficar na escola nas tardes livres, com o silêncio do pátio durante as aulas e o barulho e as enchentes nos intervalos.
O Rainha são as aulas de Filosofia.
A Educação Física de mãos nos bolsos.
As manifestações contra a PGA.
E a morte do Kurt Cobain.
Mas o Rainha não é só isto.
O Rainha foi a Sul-America e o Sr. Aristides. [Até 2016].
São as primeiras saídas à noite.
A Zona + e os 16 anos, com cópias do bilhete de identidade a somar mais 2.
Os primeiros amores a sério. Mas também os desamores.
E os mais tudo...:
Os mais giros da escola.
Os melhores amigos.
Os que se vestem melhor.
Os que têm mais pinta.
Mas também os mais malucos. Os com mais liberdade. Os mais divertidos.
É a Romeira Roma e a viagem no 67.
Amores nas paragens, que nos fazem perder um e outro autocarro. E mais outro. É só mais um bocadinho.
Mas o Rainha também é o autocarro para a Costa da Caparica.
O Rainha são fotografias com revelações duvidosas.
Mas a magia do Rainha é tão mágica, que fica gravada na memória e no coração.
De pessoa para pessoa. De geração em geração. Ano após ano.
E contagia.