Não devemos poupar na realidade,
só nas palavras

Há quem confunda tacto com omissão. Acha que ser cuidadoso é falar pouco. Esconder. Cortar pela metade. Como se a verdade fosse um bisturi e o silêncio, um penso rápido. Mas é o contrário. Poupar na realidade é empobrecer as relações. O que fere não é a verdade. É a forma como a atiramos.
Explicar é respeito. É o meio-termo entre o silêncio amedrontado e a franqueza em bruto. Andamos a fazer economia emocional. Como se cada conversa fosse uma factura. Mas o que realmente custa é perceber tarde demais o que ficou por dizer.
A comunicação humana não é um jogo de adivinhas. Mas tratamos os outros como se tivessem de decifrar o que sentimos. As entrelinha. Falar de forma clara não é ser duro. É ser justo. Mas confundimos delicadeza com disfarce.
A forma é tudo. É possível dizer o mesmo com lâmina ou com algodão. Mas nunca dizer menos. Explicar é um gesto civilizado. Uma espécie de tradução simultânea entre o que pensamos e o que o outro precisa de entender. E requer treino. Primeiro ouvir. Pensar depois. Falar por último.
Não é preciso fazer discurso. Basta não fazer mistério. As relações afundam-se mais por omissão do que por excesso. A verdade não fere. Orienta. Por isso, poupemos nas palavras, mas nunca na realidade. A primeira é uma escolha de estilo. A segunda, de carácter.