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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

11.03.25

[não] disponível


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Decidi [sem grande margem de manobra] limpar alguns dos ruídos da minha vida.
Sentia-me extremamente cansada. Aquele cansaço que não passa com as férias, uma boa noite de sono, ou nos jantares com as amigas.

Desde o início do ano que estou num estado [não] disponível. E, se soubesse o que sei hoje, ontem já era tarde.

 

Tudo começou no Verão passado, quando fiz uma viagem grande com a minha família. Por grande, entenda-se distante, longa, na outra ponta do mundo. 

Entre voos, escalas e atrasos, finalmente chegámos ao paraíso. Praia, água quente e acesso restrito à internet. O cérebro foi obrigado a parar. Nesse momento, percebi o estado em que eu estava. A ausência de barulho, a quebra no ritmo e a sensação de cabeça vazia deram-me o alerta.

Estava num estado de excesso de informação. Incapaz de estar parada. Um ruído ensurdecedor no cérebro.

 

Foi então que comecei a eliminar o SPAM da minha vida. E-mail, redes sociais, Apps, notificações. Deixei de seguir. Reduzi os que me seguiam. Ficou apenas o básico e o essencial. Nem mais nem menos.

De regresso a Portugal e a casa, privilegiei o silêncio nas viagens de carro. O trabalhar sem música. A televisão desligada ao final do dia. Ler. Ler ainda mais. Sem barulho de fundo, apenas na minha companhia. Ou desfrutar. Aproveitar o não fazer nada, sem a intenção frenética constante de ocupar as mãos e a cabeça, como se o amanhã dependesse do não parar.

 

Vou para a cama antes de ter sono e, na escuridão, tiro o máximo partido do silêncio de uma aldeia já adormecida. As pessoas já pararam de passar. Os carros de circular. Até os animais já se renderam.

Consigo ouvir a minha respiração. Cada vez  mais serena, mais pausada.

 

No trabalho, filtro as prioridades. As pessoas. Os minutos a mais. Porque o mundo não depende de mim, nem sequer vai acabar já amanhã.

O que é urgente, pode esperar mais um bocadinho. O que não pode esperar, resolvido está. Porque amanhã será sempre outro dia.

Preciso. Precisas. Precisamos. É urgente.

Mais silêncio. Menos ruído. Menos estímulos. Menos urgências. Porque as verdadeiras urgências, na verdade, nem sequer fazem ruído. 

 

Todos temos duas vidas. A segunda começa quando percebemos que só temos uma.  

[Confúcio]

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