Nómadas digitais
Os nómadas digitais incomodam muita gente. Porque estacionam em qualquer lado. Porque deixam lixo. Porque não consomem. Não dão dinheiro ao país.
A mim não me incomodam e eu gosto deles. Dão cor às esplanadas e vida aos bancos de jardim.
Dão-nos mundo. Outras línguas e outras culturas. Mostram-nos o que desconhecemos. Despenteiam a nossa rotina e inquietam-nos os sonhos.
Porque as segundas-feiras não têm de ser uma m€rd@. E eles sabem-no e vivem o momento. E vivem-no bem. Porque O ontem já foi e O amanhã não é para já.
A vida não tem de ser séria. E eles não se levam muito a sério.
E deixam simplesmente fluir.
A mim não me incomodam. Não tenho nada para me sentir incomodada. Não sou dona de um estabelecimento comercial. Não tenho espaço onde possam pernoitar. Não vejo o lixo que deixam, nem o dinheiro que não gastam. Só vejo a vida que levam e tenho inveja. Daquela feia, de querer ser eu a estar no lugar deles e não sou. Não serei. Podia ter sido, mas no meu tempo não era assim.
Não precisam de nada, mas têm tudo. Têm tempo. Autonomia. Margem de manobra e mundo. É isso, eles têm mundo. Adormecem em Marrocos e acordam em Portugal.
Dei este exemplo. Mas podia ter dado outro qualquer. Para eles, o céu é o limite.
Hoje estão aqui e amanhã sabe-se lá. Coisa de quem não tem de fazer planos e a diferença horária não faz diferença [...]. Porque o tempo é deles, não é de mais ninguém.
E a vida, essa, a vida faz-lhes tão bem!