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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

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09.09.25

O direito interdito de ser apenas mulher


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Não sou feminista. Não me identifico com as barricadas, nem com os megafones, nem com a exigência de que homens e mulheres sejam iguais em tudo. Não acredito em simetrias forçadas. Somos diferentes. E há uma nobreza intrínseca nessa diferença. Há coisas que são de homens. Há coisas que são de mulheres. E essa divisão natural é uma arquitectura tão antiga quanto a própria humanidade. A diferença não nos diminui. Completa-nos.

 

Mas o que dizer quando essa diferença não é celebrada. E sim apagada com violência. Quando ser mulher não é apenas ser diferente, mas uma culpa gravada na pele. Porque ainda há lugares no mundo onde uma mulher não pode ser só mulher. Não pode andar na rua com a cara descoberta. Não pode rir alto sem ser considerada indigna. Não pode escolher a própria vida. O próprio corpo. O próprio silêncio. Ser mulher nesses territórios não é identidade. É sentença.

 

O que aqui chamamos de liberdade, lá é crime. Uma leitura proibida pode custar membros. Um olhar errado, a vida. Um corpo que ousa sem permissão é violado, torturado, transformado em campo de guerra. Há mulheres queimadas com pontas de cigarro como se fossem madeira a ser testada. Outras são enterradas antes de chegarem à idade adulta.

 

E não é o feminismo a falar. É humanidade. A constatação crua de que existem geografias onde a diferença deixou de ser riqueza e passou a ser castigo. Onde a metade feminina da espécie é tratada como mercadoria defeituosa. Sem direito a existir com a dignidade mínima.

 

No Ocidente, a liberdade feminina dá-se ao luxo de discutir quotas, salários, lugares de liderança. Enquanto isso, do outro lado, há mulheres que dariam a própria vida só para poder andar de bicicleta, ler um livro em voz alta, ou sair à rua com o cabelo ao vento. Não pedem estatísticas de paridade. Pedem apenas o direito de existir sem medo da próxima punição.

 

A tristeza não está apenas na dor física da tortura. Está no facto de a mulher não poder exercer a nobreza natural de ser feminina. E a diferença só é bonita quando é livre. Mas nestes lugares, a condição feminina é reduzida a um manual de restrições. E isso, mais do que violência, é a anulação do ser humano. A mulher não pode cantar. A mulher não pode ser mulher. 

 

Ser mulher devia ser tão banal quanto ser homem. Um facto da biologia, uma identidade da vida. Mas em certas fronteiras, ser mulher é um erro de fabrico. É nascer com um destino traçado na pele, como se o corpo fosse propriedade de uma lei alheia. E não se trata de relatórios internacionais. Trata-se do óbvio. De metade da humanidade viver debaixo do drama em que cada gesto natural é considerado transgressão. Trata-se da tragédia de se nascer com a condição feminina transformada em castigo.

 

E aqui volto ao início. Não sou feminista. Só quero explodir o que devia ser evidente. A diferença é a nossa grandeza. E quando uma mulher não pode viver essa diferença, o mundo inteiro empobrece. Porque não se trata de igualdade. Trata-se de existência. E quando o simples acto de existir já é proibido, a palavra mulher deixa de significar vida. Passa a significar sobrevivência. E sobreviver não é viver.

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