O lugar vago na mesa,
o que acontece quando deixamos de aparecer.

Há uma espécie de lei que rege as relações humanas. Se deixas de aparecer, deixas de existir no mapa mental dos outros. Não é maldade. Nem conspiração. É geometria. Quem não ocupa espaço, perde forma.
No início, estranha-se. Na semana seguinte, repete-se a ausência. Na terceira, já ninguém pergunta. Não porque não gostem de nós, mas porque a vida preenche os vazios com outras presenças. É como numa mesa posta, se um lugar fica vazio, ao fim de algum tempo já ninguém lhe põe talheres.
Nas relações humanas é assim. Quem não rega, seca. Não é justiça. É visibilidade. As pessoas lembram-se do que está diante dos olhos. Não se lembram do que está atrás da cortina.
Mas este sumiço não tem nada de trágico. Somos selectivos na memória. Funcionamos por proximidade. O cérebro tem a mania de arquivar o que não lhe dá sinais de vida. Quem não aparece, perde a senha de prioridade. E não há excepção. A ausência constante é o mais rápido acelerador do esquecimento.
A solução não é dramatizar nem correr atrás de todos os convites. Mas perceber que aparecer não é estar sempre presente. É marcar território na memória dos outros de forma consistente. Porque o lugar não se ocupa só com o corpo. Ocupa-se, essencialmente, com o rasto.
Há quem viva obcecado por não perder espaço. Torna-se presença pesada. Redundante. Ruído de fundo. Outros há, que fazem o contrário. Desaparecem de tal forma que ninguém se lembra que existiram. Uma ausência estratégica é tolerada quando já houve uma presença sólida. Só desaparece quem já esteve. Quem nunca marcou, não tem sequer o privilégio de ser esquecido. O tempo não tem paciência para lugares vagos.
No fundo, a vida funciona como uma cartografia em constante actualização. Se não assinalamos o nosso território, ele é apagado e substituído por outro. E a lição é simples. Não se trata de ocupar tudo, mas de não deixar o lugar eternamente vazio. Porque o tempo não guarda espaços em branco.
Entre a invisibilidade e a saturação, há o espaço justo da relevância. E é nesse espaço que as pessoas continuam a contar connosco.