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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

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02.07.25

O que é o humor?


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É única e exclusivamente uma opinião. A minha.

Não é uma piada. Nem um estilo. Nem sequer uma habilidade exclusiva de quem sabe fazer rir.
O humor é, antes de mais, uma forma de ver. E depois, se houver sorte, uma forma de dizer.

 

Pode vestir-se de ironia fina. Sarcasmo. Faca afiada. Nonsense poético. Riso largo, quase infantil. Mas o que o define não é o som da gargalhada. É o movimento interior que provoca. O humor acontece quando se torce um ângulo da realidade. Como se alguém mexesse ligeiramente numa moldura torta e a colocasse direita. Ou ainda mais torta. Depende.

 

O humor tem instinto de sobrevivência. Não é leve só porque faz rir. E não é superficial só porque é rápido. Há piadas que nos desmontam. E há silêncios que não têm graça nenhuma, mas são profundamente cómicos para quem sabe olhar com esse desvio subtil que o humor exige. 

 

Em sociedades que se levam demasiado a sério, o humor funciona como contrabando. Leva verdades no bolso do casaco e passa pelos filtros todos: do politicamente correto à rigidez moral, da rotina ao tédio.
É uma rebeldia disfarçada de riso. Uma forma de dizer isto está tudo ao contrário sem precisar de levantar a voz.

 

Há quem diga que o humor é um luxo. Mas não é. É instinto. O ser humano riu-se muito antes de saber escrever. E continua a rir-se até quando tudo o resto falha.
O que é o humor, senão uma resposta de emergência ao absurdo da existência?

 

Nem sempre é inofensivo. O humor é uma faca. Pode cortar com elegância ou ferir com crueldade. Depende de quem segura e do que se pretende cortar.
Há piadas que revelam e piadas que ocultam. Piadas que libertam e piadas que humilham.
É uma arte e um risco. Por isso exige consciência. E não apenas graça.

 

A fronteira entre o que é engraçado e o que é ofensivo não é fixa. É movediça. Cultural. Histórica. Pessoal. Mas isso não deve impedir-nos de arriscar. O humor vive precisamente nesse lugar instável onde nada é garantido.

 

O humor é vínculo. Quando alguém tem graça é porque tem ouvido. Tem mundo. Tem afecto.
O humor é uma forma íntima de dizer Eu também vi. Estou atento. Talvez por isso os momentos mais memoráveis das nossas vidas são os que nos fizeram rir com alguém. Rir é um pacto. Onde nos entendemos sem explicações.

 

O humor é um desvio ligeiro na rota do óbvio. E esse desvio, quando bem feito, pode ser a forma mais séria de inteligência e a mais generosa de humanidade.

 

 

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