Pedimos ao cirurgião para ser mais rápido na operação?

Temos pressa de tudo. Pressa de sair de casa. De chegar ao trabalho. Responder ao e-mail. Acabar a reunião. Almoçar. Pagar a conta. Regressar. Pressa de fazer. De concluir. Estamos sempre a funcionar como se houvesse um cronómetro a marcar-nos os segundos. E a sensação é sempre a mesma. Já estamos atrasados. Só que, na maior parte das vezes, não estamos. É apenas uma ilusão. Repetida tantas vezes que passámos a acreditar nela.
A pressa tornou-se vício. Um reflexo automático. Quase tão natural como respirar. Estamos na fila do supermercado e, mesmo sem nada de urgente para fazer, queremos que a senhora da frente passe as compras depressa, que o multibanco não demore, que a máquina não falhe. É um absurdo. Não temos nenhuma reunião com chefes de Estado a começar daqui a cinco minutos. Mas o pé já bate no chão, nervoso.
É curioso. Exigimos velocidade em coisas onde a rapidez não nos acrescenta nada. O café servido em dez segundos não sabe melhor do que o que demora dois minutos. Só que por uma questão de cultura confundimos rapidez com eficiência. Pior. Com relevância. Se é rápido, é bom. Se demora, falha.
Mas experimentemos inverter a lógica. Pediríamos a um cirurgião para acelerar uma operação só porque temos outras coisas para fazer a seguir? Claro que não. Em áreas onde a consequência é visível, aceitamos a lentidão como sinónimo de rigor. Em tudo o resto vivemos dominados pela ansiedade do imediato.
A pressa rouba valor. Uma conversa feita a correr não é conversa, é transmissão de dados. Um jantar feito a correr não é convívio, é abastecimento. Até as férias já se consomem em versão fast travel. Corre-se para ver tudo. Tirar fotografias de tudo. Provar tudo. E regressa com a sensação ilusória de que se fez tudo.
A pressa disfarça-se de virtude. Como se viver ofegante fosse produtividade. Não é. É apenas sinal de descontrolo. A pressa não nos torna mais produtivos. Torna-nos menos presentes. O que nos falta é reaprender a dar tempo às coisas que só acontecem devagar. Crescer é devagar. Confiar é devagar. Ouvir é devagar. Pensar é devagar. Não há atalhos para estas coisas. E, ironicamente, são as únicas que realmente ficam.