Quero fazer coisas.
O máximo de coisas possível.

Quero fazer coisas. O máximo de coisas possível. Não sei se gosto de o dizer em voz alta, porque revela mais do que devia. Não é só querer. É quase uma urgência. Uma inqueitação. Uma necessidade que não cabe em lado nenhum.
É difícil saber onde começa esta pulsão. Da infância. Dos anos em que a rotina era um lugar apertado. Pode vir simplesmente da consciência do tempo. A partir dos 40, estamos no meio. Temos pressa. Começamos a medir o tempo em termos de saldo e não de promessas. E nós sabemos disso. Sabemos que há vidas paralelas que não teremos tempo de viver. Mas queremos, ainda assim, tocá-las. Nem que seja com a ponta dos dedos. Então, atiramo-nos à vida. Não aos poucos, mas de uma vez.
Por isso, queremos fazer coisas. Muitas. Quantas mais, melhor. Queremos coleccionar experiências. E está certo, querer. Não desperdiçar nada. Viver e tirar partido de tudo. Mas que esse querer não venha da pressa. Venha da intenção. Do que somos, não do que achamos que devíamos ser.
E não é só fazer. É, também, absorver. Expormo-nos ao máximo de estímulos, pessoas, saberes. Estarmos sempre permeáveis, como se a nossa identidade fosse um projecto inacabada que precisa constantemente de nova matéria-prima. Há uma espécie de culto de expansão. Como se fosse possível garantir que, no fim, vivemos tudo.
Mas há uma falha nesta equação. Com a sede de fazer tudo, ficamos diluídos. Visitamos, mas não habitamos. Por isso, não vamos tentar fazer tudo. Vamos querer escolher. Mergulhar. Estar. Deixar que as coisas nos ocupem com tempo e profundidade. Sem pressa de passar à próxima.
Viver bem não é viver muito. É perceber que uma vida plena pode ser uma vida com espaços vazios. Que o silêncio é infinitamente mais fértil do que o ruído.
Vamos estar certos, porém, de que não há tempo para tudo. Mas há tempo suficiente para o que nos importa.