Reuniões,
o desporto nacional que ninguém pediu
Portugal tem tradições incríveis: o bacalhau. Os santos populares. As filas para os centros comerciais. Mas há uma que ultrapassa tudo e todos. Um verdadeiro património imaterial: as reuniões.
É que, em Portugal, não se pode simplesmente tomar uma decisão. Resolver um problema. Enviar um email.
É preciso uma reunião. E depois outra para discutir o que foi dito na primeira. E mais uma para decidir quando será a próxima. A lógica é simples: se há um problema, em vez de o resolvermos, junta-se um grupo de pessoas numa sala [ pior, no Teams, que começa sempre com alguém a gritar Estão a ouvir-me? ]. E fala-se sobre o problema até este ganhar a consistência suficiente para se tornar um problema maior.
E há todo um ritual...
A convocatória misteriosa.
Ninguém sabe bem porquê, mas recebe-se um convite no Outlook para uma reunião com um título vago como Alinhamento Estratégico. O que é? Sobre o quê? Mistério. Dizer NÃO a uma reunião, em Portugal, é um sacrilégio. Aceitar.
O aquecimento.
Os primeiros 15 minutos são de aquecimento essencial. Falar do tempo. Do trânsito. Do Benfica [uma analogia: mesmo que ninguém ligue ao Benfica, fala-se do Benfica. É como a reunião. Não leva a lado nenhum, mas acontece].
O momento do estamos aqui para quê mesmo? Silêncio absoluto.
Meia hora depois, chega a noiva [o big boss, entenda-se].
Troca de olhares. Uma pessoa finge que revê as notas. Outra manda uma piadola. O importante é criar sinergias.
Já vamos a meio. Nada foi respondido, mas todos acenam.
E eis que surge o desvio inesperado.
Do problema X, já estamos a falar do jantar de Natal de 2032. E soluções? Nenhumas.
Tic Tac... passou uma hora e meia de poesia corporativa e alguém solta o último tesourinho deprimente: Temos aqui pontos muito interessantes, mas se calhar faz sentido marcarmos outra reunião para fechar isto.
E temos acta. Um email com um resumo do que foi discutido, que não esclarece nada. Mas tem palavras como roadmap, stakeholders e boost. Fico na dúvida se algo algo aconteceu.
E pronto, assim se passa mais um dia produtivo. Porquê resolver um problema de forma rápida e eficiente? Isso não tem piada nenhuma. O que interessa é a reunião. O resto logo se vê.
Eu diria: Portugal no seu melhor.