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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

04.04.25

Síndrome do Campo =

quem nunca quer sair da província.


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Meus amigos urbanóides, hoje o tema é-me particularmente especial: a temida, mas invejável, Síndrome do Campo.
Uma condição psicológica irreversível, que me toca, para alguns inexplicavelmente, há 15 anos. Não quero saber de cidades grandes. Centros comerciais. Filas intermináveis. Buzinas e ambulâncias a passar.  
Um fenómeno sociológico que desafia o ideal de progresso.

 

Tenho repulsa ao trânsito. Campónio que é campónio não suporta a ideia de perder duas horas num engarrafamento para parte nenhuma. Em casa, vou de um lado ao outro em dez minutos [incluindo a pausa para cumprimentar os vizinhos que estejam na mercearia].  

 

Ódio visceral a compras. Uma aversão que até eu desconhecia. 
Andar 40 minutos para encontrar um lugar no parque de estacionamento e ainda pagar por ele? Não, obrigado. Passo. Prefiro ir à praça comprar fruta e trocar dois dedos de conversa com a velhota do costume.

Sossego como necessidade extrema. O conceito de ruído urbano só mesmo nas férias e em situações muito pontuais. Por cá, o som mais alto é mesmo o do sino da igreja. Um trator a passar. O galo, às primeiras horas da manhã.

É viver. Sem pressa. Sem planos. Sem compromisso.
É não marcar jantares com 15 dias de antecedência. Passa cá em casa. Logo se vê. E a mais não somos obrigados.  

 

A Síndrome do Campo não tem cura. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Normalmente ocorre quando se passa um fim de semana no campo e, pela primeira vez, se respira fundo sem sentir monóxido de carbono.  

Depois vem a fase de negação. Eu sempre vivi na cidade, adoro a agitação! Mas esta calmaria... o pão caseiro... estas pessoas que te cumprimentam na rua.
E eis que chega a rendição. Percebes que nunca mais vais querer usar um elevador na vida. Começas a chamar as vacas pelo nome. A discutir a meteorologia com convicção. Passas a fazer voluntariado na apanha da batata na casa do vizinho.

 

Quem entra já não sai. Fica condenado a uma vida de paisagens bucólicas. Caminhadas. Jantares onde a carne sabe a carne e os legumes sabem a legumes.  
Tentam convencer-me a mudar para a cidade com a conversa fiada de mais oportunidades, vida cultural intensa ou Uber Eats. Nada disso é suficiente para me fazer abdicar da vidinha pacata onde o tempo corre ao ritmo certo.  

 

Desfruto da minha condição. Sento-me no alpendre. Aprecio o pôr do sol e oiço os grilos. Sorrio com superioridade quando alguém me diz Mas não tens nada para fazer aí! Enquanto os outros estão presos num loop eterno entre trabalho - trânsito - centro comercial- casa, eu estou exatamente onde quero estar.

E já não troco isto por nada.

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