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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

16.10.25

Discriminação,

o nome das pedras.

  Tem má fama. A palavra discriminação. É dita com as mesmas rugas na testa quando se fala de injustiça, corrupção ou guerra. Mas o verbo discriminar, no dicionário, não nasceu vil. Originalmente, significava distinguir, separar com critério. A natureza discrimina a flor que só abre à luz certa e o corpo rejeita o que lhe é tóxico. O problema começou quando trocámos o critério pela conveniência e o instinto pela convenção.   Hoje, discriminamos com a mesma (...)
10.10.25

A felicidade do "quase"

    Gostamos do que está feito. O objectivo cumprido. Ir riscando a lista. O troféu do fazer-fazer. Há uma obsessão por chegar. Por concluir. Por estar lá. Mas o lá tem um problema. Costuma durar pouco. É o golo final do café, aquele que prometia o sabor perfeito, mas que já vem frio. É a fotografia tirada depois de meses e que não diz nada sobre o vazio de ter atingido o resultado. É a meta atingida. A casa decorada. O amor oficial.   O láé o fim. E o fim, por mais (...)
06.10.25

O lugar vago na mesa,

o que acontece quando deixamos de aparecer.

  Há uma espécie de lei que rege as relações humanas. Se deixas de aparecer, deixas de existir no mapa mental dos outros. Não é maldade. Nem conspiração. É geometria. Quem não ocupa espaço, perde forma.   No início, estranha-se. Na semana seguinte, repete-se a ausência. Na terceira, já ninguém pergunta. Não porque não gostem de nós, mas porque a vida preenche os vazios com outras presenças. É como numa mesa posta, se um lugar fica vazio, ao fim de algum tempo já (...)
25.09.25

PALOP,

a porta de vidro que nos separa

  Há quem pense que emigrar começa no aeroporto. Que a aventura começa no adeus à família, no passaporte carimbado, no embarque para uma vida nova. Mas, na verdade, para muitos jovens dos PALOP, a verdadeira fronteira não é geográfica. É administrativa, silenciosa e tantas vezes invisível. A embaixada é o primeiro muro.   Não há sirenes. Nem (...)
19.09.25

Refugiados,

quem são quando deixamos de os ver como vítimas.

    Há um erro recorrente na forma como falamos de refugiados. O de os tratarmos exclusivamente como vítimas. Sempre com o mesmo enquadramento. Fuga. Barcos. Tendas. Desespero. Um retrato com utilidade mediática, mas redutor. Congela pessoas complexas num instante de fragilidade. E pior. Esgota rapidamente a empatia pública. Quando alguém é apenas um problema, a tendência é querer afastá-lo.   Os refugiados não são pessoas a quem lhes falta algo. São pessoas que (...)
17.09.25

Quando o sonho já nos está a fazer reagir

  Sonhar é bonito. Inofensivo. Como se fosse um passatempo da mente. Uma distracção de fim de dia. Mas a verdade é que quando queremos alguma coisa a sério, esse desejo deixa de ser um quadro na parede e passa a ser um personal trainer. Sem darmos por isso, começamos a alinhar gestos, decisões e cada músculo mental para estarmos prontos no dia em que a oportunidade bater à porta.   Será magia? Será sorte? Magia não é certamente. E a sorte não bate assim. Quem sonha com (...)
16.09.25

Liberdade de expressão,

a mais.

  Fala-se da liberdade de expressão como se fosse um troféu da modernidade. Um prémio conquistado depois de séculos de censura. E é. Mas ninguém nos avisou do que aconteceria quando todos pudessemos falar ao mesmo tempo. Sem limite. Sem filtro. Sem hierarquia. E o que era para ser um direito conquistado, transformou-se num campo de batalha onde cada voz procura esmagar as outras.    A vantagem óbvia da liberdade de expressão está no poder de denunciar abusos. De dar palco ao m (...)
12.09.25

Procurar fora antes de olhar para dentro,

errado.

É um reflexo automático que carregamos na ponta dos dedos. Procurar fora antes de olhar para dentro. Queremos mudar de trabalho? O primeiro impulso é espreitar as ofertas que pipocam nos motores de busca. Nunca nos perguntamos: E se eu reinventasse a forma como trabalho aqui, neste mesmo lugar? Será mesmo necessário trocar de paredes, ou basta trocar de abordagem?   O mesmo se repete em escalas menores e mais subtis. Precisamos de alguém para um novo cargo? Abrimos logo a vaga. (...)
10.09.25

Gastar dinheiro,

de forma intencional.

Fala-se de poupança como quem fala de higiene. É um dever básico. Fala-se de investimento como se fosse a versão adulta da ambição. Quem sabe investir está a construir o futuro. Mas raramente falamos de gastar dinheiro de forma intencional. Sem culpa. Sem desperdício. Gastar parece sempre associado à leviandade. Ao impulso. À falta de disciplina. Como um erro a justificar.   Só que gastar é inevitável. Um acto que molda tanto a nossa vida quanto poupar ou investir. O que (...)
06.08.25

Os olhos também gravam,

concerto de telemóvel na mão.

  Foi-se o tempo em que os concertos começavam com o barulho de vozes a afinar entusiasmo e terminavam com o som do encore a ecoar no peito. Agora, começam com ecrãs acesos e terminam com vídeos tremidos, de som saturado, a ocupar espaço na galeria do telemóvel e nenhum na memória.   Não é só uma questão de registar o momento. É uma compulsão de provar que se esteve lá. É o reflexo de uma plateia mais interessada em documentar do que em sentir. Gente a ver o concerto (...)