Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

22.05.25

Quero fazer coisas.

O máximo de coisas possível.

Quero fazer coisas. O máximo de coisas possível. Não sei se gosto de o dizer em voz alta, porque revela mais do que devia. Não é só querer. É quase uma urgência. Uma inqueitação. Uma necessidade que não cabe em lado nenhum.   É difícil saber onde começa esta pulsão. Da infância. Dos anos em que a rotina era um lugar apertado. Pode vir simplesmente da consciência do tempo. A partir dos 40, estamos no meio. Temos pressa. Começamos a medir o tempo em termos de saldo e (...)
21.05.25

Não és assim tão importante,

não está tudo a olhar para ti. Faz, apenas.

Gosto de reconhecer a nossa própria pequenez. Não somos o centro. Não estamos sob holofotes. Não há uma plateia em cada gesto nosso. Nem um júri afiado a pontuar cada palavra que dizemos. Não, não está tudo a olhar mim. Para ti. Para nós. E isto é o início de qualquer coisa. Vivemos tempos contraditórios, Nunca fomos tão visíveis e, ao mesmo tempo, tão reféns da ideia de sermos vistos. As redes sociais, os ambientes competitivos, a constante exposição. Parece que tudo (...)
20.05.25

Não gosto de nada que me aperte

roupa, pessoas, situações…

Não gosto de nada que me aperte. Nem roupa, nem sapatos, nem pessoas. Tenho uma aversão a tudo o que me tolhe o corpo e o pensamento. É uma espécie de alergia adquirida com o tempo. Collants que deixam uma marca vincada no estômago, sapatos que fazem doer da planta do pé à alma.   Mas também não gosto de conversas e relações que apertam. Agendas apertadas, ideias (...)
17.05.25

Partilhar é viver.

ou vivemos para partilhar?

Antigamente, quando alguém ia jantar fora, ia jantar fora. Hoje, vai jantar fora, escolhe o ângulo do prato, limpa a câmara, aplica um filtro e uma hashtag e só depois é que começa a jantar. Ir jantar fora já não é só ir jantar fora. É conteúdo. Narrativa. Reel.  O registo do instante passou a valer mais do que o próprio instante. E a vida para ser mostrada e não apenas vivida.    Mas não acho que se trate de vaidade ou ego; isso seria um diagnóstico demasiado (...)
16.05.25

O último Sapateiro

Numa rua discreta da vila onde vivo, havia uma pequena loja com cheiro a couro e cola quente. Lá dentro, um homem de bata castanha mexia nas solas como quem mexe num objecto frágil. Era sapateiro. Profissão que, para mim, criança urbana dos anos 80, parecia tão eterna como os semáforos. Hoje, passo por essa mesma rua e a loja está fechada. A montra serve agora de armazém improvisado para panfletos e pó. O último sapateiro da vila reformou-se. Ou reformaram-no. Como tantas outras (...)
15.05.25

Meia estação. Meio Maio.

Quando o tempo não colabora com o calendário

Estamos a meio de Maio. Devia ser a altura das mangas arregaçadas, do sol a bater no vidro do carro, dos miúdos com os casacos atados à cintura. Oficialmente, faltam apenas seis semanas para o Verão. Mas basta abrir a janela ou dar dois passos na rua para percebermos que o calendário não é soberano. Há qualquer coisa de deslocado neste Maio. Um desalinho entre o que nos habituámos a esperar e aquilo que nos está a chegar.   A expectativa tácita de que Maio seja o mês do quase (...)
09.05.25

Muita presença, demasiado ruído

Há pessoas que aparecem tanto que já não as vemos. Estão por todo o lado: no feed, nas stories, nos comentários, nos vídeos, nas selfies, na televisão... Com sugestões, frases inspiradoras e opinião sobre tudo. De segunda a domingo. De manhã, agora, daqui a bocado e logo à noite.  São pessoas que fazem da sua imagem uma espécie de franchising.   Não lhes subestimo a inteligência. Não lhes questiono a ousadia. O problema é mesmo a saturação. Tanta que nos anestesia. (...)
06.05.25

Roupa lavada, alma estendida

antídoto para o stress matinal

Há um momento do dia em que o próprio dia ainda não começou a pedir nada. Nem tarefas, nem respostas, nem pressa. É nesse instante que eu saio, com o cesto de roupa lavada encostado à anca, para um ritual que ninguém inveja, mas que eu não troco por nada. Estender a roupa de manhã cedo, no campo. Um luxo incalculável. E tão subestimado.    A maioria das pessoas detesta fazê-lo. Queixa-se do tempo, das molas, do encosto da roupa húmida nos braços. Mas fazem-no dentro de (...)
05.05.25

Uma salva de palmas ao sono ao ar livre

Há prazeres tão silenciosos, que quase passam despercebidos. Não se insinuam nas vitrinas do quotidiano. E, no entanto, têm o poder de nos devolver a plenitude. Um desses prazeres chama-se: adormecer ao ar livre.   Não é preciso muito. O areal, uma espreguiçadeira, uma rede pendurada entre duas árvores, um banco de madeira morna num parque ao fim da tarde. A única exigência é que o céu esteja por perto. Azul ou escuro. Com estrelas ou nuvens, em movimento lento. Depois disso, (...)
02.05.25

"Não tenho tempo para ler",

a meia verdade

Dizem-me frequentemente que não têm tempo para ler. Da mesma forma que me dizem que vão demorar só mais 5 minutos a fazer scroll. Não é mentira, mas também não é toda a verdade. É uma desculpa elegante, quando sabemos que ler pede mais do que tempo. Ler exige presença. E presença exige alguma coragem. Não para deitar o telemóvel fora, mas para parar durante alguns minutos e ler, mesmo que o mundo continue a girar. E num mundo onde o defaulté correr, é um acto quase (...)