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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

17.07.25

Festivais de Verão,

o som que abre a cerca.

  Os Festivais de Verão aos 15 anos. Aos 15 anos, o Verão deixa de ser apenas a estação das férias grandes e  transforma-se no primeiro ensaio da vida adulta, com data marcada no calendário: o primeiro festival. Não é apenas música. É a primeira fronteira entre o que foram e o que serão. O intervalo entre a tutela e a liberdade. O ponto onde as decisões começam a ter consequências para além do registo escolar.   Os festivais de verão são território híbrido. Cidade (...)
16.07.25

Incêndios,

arde sempre mais do que a floresta.

  O verão começa com sirenes. O céu a mudar de cor. O fumo no horizonte que não é nevoeiro. É o aviso de que alguma coisa está a desaparecer em chamas. Outra vez. Todos os anos, por esta altura, repetem-se os termos cenário de destruição, área ardida, meios no terreno. Todos os anos, imagens aéreas de fogo em pinhais, zonas evacuadas, bombeiros exaustos, populações em lágrimas.   Mas todos os anos há também um espanto fingido. Como se não fosse previsível. O que arde (...)
15.07.25

Exames nacionais do 9º ano,

a épica batalha

  O país entrou [um bocadinho] em modo solene. Nós, famílias, ajustámos rotinas. Os professores afinaram estratégias. Os miúdos prolongaram os estudos. E os directores de turma passaram a comunicar com os pais em tamanho 16 e negrito. São os exames nacionais do 9.º ano. Um par de testes transformado num ritual quase sagrado, como se o futuro dependesse da interpretação de um excerto do Auto da Barca do Inferno
14.07.25

Bullying,

o nome da exclusão.

  O bullying não começa com murros nem com nomes feios. Começa com gestos. Exclusões. Sorrisos combinados que todos à volta entendem, menos um. Começa com a organização invisível das hierarquias. Pertenças. Rejeições. E porque começa discreto, estratégico, silencioso, demora a ser visto por quem está de fora.   Fala-se de bullying como se fosse um desvio comportamental. Como se fosse um problema de um ou dois alunos. De personalidades mais agressivas. Famílias (...)
13.07.25

Guerra,

o falhanço da humanidade.

  O que é a guerra? É o falhanço da humanidade. A guerra não começa com tiros. Começa muito antes. No momento em que um ser humano deixa de ver o outro como igual. Começa onde termina a escuta. Onde a palavra deixa de ser suficiente. Onde a dúvida dá lugar à certeza absoluta. E essa certeza exige submissão, território, vingança, domínio.   A guerra é um ruído que cresce devagar. Primeiro como tensão. Depois como discurso. Por fim, como fogo. E quando chega a esta (...)
07.07.25

Crucificar em praça pública,

que é como quem diz nas redes sociais

Ainda sobre o caso Joana Marques e os Anjos. Gosto infinitamente mais do trabalho da Joana Marques, do que do trabalho dos Anjos. Ainda assim...   Houve um tempo em que as praças eram físicas. Espaços amplos, de pedra e eco. Onde o povo se reunia para aplaudir coroações e assistir, sem pestanejar, a execuções públicas. Havia ali uma pedagogia macabra. O erro de um servia de exemplo para todos. Quem passasse por ali, não esquecia a lição. Era cruel. Visível. Localizado. Minucioso. (...)
04.07.25

Primos,

os primeiros amigos

  Uma relação que raramente é celebrada como devia. Passa despercebida nos discursos de aniversário, nas dedicatórias dos livros e nas fotografias de moldura. Não é feita de amor romântico, nem é tão solene quanto com os irmãos. Mas é o primeiro laço fora do núcleo apertado de casa. Primos.   Os primos são a primeira experiência de comunidade. Uma espécie de mini sociedade onde se aprende tudo em bruto. A partilhar brinquedos, a resolver discussões sem adultos por (...)
03.07.25

Simplicidade,

em defesa do que basta.

  Estamos a sobrevalorizar o excesso. Vivemos num tempo assim. Excesso de palavras. De imagem. De intenção. Somos pressionados a parecer mais do que somos. A complicar o que é claro. A adornar o que já tem valor. A simplicidade tornou-se quase subversiva. E por isso mesmo temos de resgatá-la.   Há um carisma próprio nas coisas simples. Nos nomes simples, que dizem o essencial sem esforço. Nos gestos simples, que dispensam legenda. Nas ideias claras, que recusam o ruído. A (...)
02.07.25

O que é o humor?

É única e exclusivamente uma opinião. A minha. Não é uma piada. Nem um estilo. Nem sequer uma habilidade exclusiva de quem sabe fazer rir. O humor é, antes de mais, uma forma de ver. E depois, se houver sorte, uma forma de dizer.   Pode vestir-se de ironia fina. Sarcasmo. Faca afiada. Nonsense poético. Riso largo, quase infantil. Mas o que o define não é o som da gargalhada. É o (...)
02.07.25

Currículo com data de validade

  Currículo com data de validade. Há uma fase na vida em que a experiência deixa de ser valorizada e começa a ser tolerada. Acontece por volta dos 45. Para alguns, mais cedo. Para outros, nem tanto. Mas o padrão é claro: chega um momento em que o mercado de trabalho olha para profissionais experientes e já não vê um activo. Vê um risco.   Não é uma exclusão declarada. Ninguém diz Já tem demasiados anos. Mas sente-se. No silêncio que começa a crescer em volta de quem, (...)