Talvez:
o desconforto das coisas mornas
Há quem goste do copo meio cheio. Nem preto nem branco. Comme ci comme ça. Talvez.
Eu não. Tenho um desconforto visceral com o mais ou menos, o tanto faz, o vamos ver como corre. Não me entendo com o morno. Nem na comida, nem nas escolhas. Só na temperatura. Coisas que não se comprometem. Não se decidem. Não assumem nem um lado nem outro. Deixam-me inquieta. Semelhante a usar uma camisola de lã demasiado quente num dia que afinal não era assim tão frio.
A meio gás também é isto. Um céu nublado que ameaça chuva mas acaba por não chover. Um livro que fica a meio. Um beco sem saída, não sinalizado.
A inconstância, ainda que suave, é exaustiva. O cérebro tem sede de clareza. De saber com o que conta. Frio ou calor. Sim ou não. Preto ou branco.
Mas gosto de nuances. Porque as nuances são outra coisa. São uma indecisão sem densidade.
O talvez são escolhas adiadas. Uma parca sensação de equilíbrio que, no fundo, é apenas medo. Porque o talvez nunca nos salva. Não aquece. Não protege. Não empurra.
Há tempo a menos para andarmos a colecionar meias estações. Para sapatos que magoam só um bocadinho. Conversas que dizem quase tudo.
Se estiver sol, que queime. Se chover, que molhe. E se for para ser outono, que venha com cheiro a castanhas assadas e vento na cara.
Para ser, que seja. E não esteja apenas entre.