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barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

barulho de fundo

quem tem alma não tem calma.

22.04.25

Talvez:

o desconforto das coisas mornas


Talvez apenas precises de um café! Café Oceano.p

 

Há quem goste do copo meio cheio. Nem preto nem branco. Comme ci comme ça. Talvez. 

Eu não. Tenho um desconforto visceral com o mais ou menos, o tanto faz, o vamos ver como corre. Não me  entendo com o morno. Nem na comida, nem nas escolhas. Só na temperatura. Coisas que não se comprometem. Não se decidem. Não assumem nem um lado nem outro. Deixam-me inquieta. Semelhante a usar uma camisola de lã demasiado quente num dia que afinal não era assim tão frio.

 

A meio gás também é isto. Um céu nublado que ameaça chuva mas acaba por não chover. Um livro que fica a meio. Um beco sem saída, não sinalizado.  

A inconstância, ainda que suave, é exaustiva. O cérebro tem sede de clareza. De saber com o que conta. Frio ou calor. Sim ou não. Preto ou branco. 

 

Mas gosto de nuances. Porque as nuances são outra coisa. São uma indecisão sem densidade.

O talvez são escolhas adiadas. Uma parca sensação de equilíbrio que, no fundo, é apenas medo. Porque o talvez nunca nos salva. Não aquece. Não protege. Não empurra.

Há tempo a menos para andarmos a colecionar meias estações. Para sapatos que magoam só um bocadinho. Conversas que dizem quase tudo.

Se estiver sol, que queime. Se chover, que molhe. E se for para ser outono, que venha com cheiro a castanhas assadas e vento na cara.

 

Para ser, que seja. E não esteja apenas entre.