Tudo na palma da mão,
poder ou maldição
Telemóvel.
Carregamos um oráculo no bolso. Na mala. No casaco. Um dispositivo que responde a tudo. Recomenda-nos o que comer. Sugere-nos o que vestir. Lembra-nos do aniversário daquele primo que não vemos há anos.
Poupa-nos às filas. Dá-nos mundo. Mas será que nos traz mais liberdade ou aprisiona-nos?
Resposta imediata que vem até nós de jacto. Quer seja para procurar um livro ou encontrar a receita do bolo sem glúten às três da manhã. A internet nunca dorme.
E o mundo passou a caber num carrinho de compras online. Compramos tudo. Sem sairmos do sofá. A fila do supermercado já não é tempo perdido. Podcasts. Audiolivros. Em segundos damos a volta ao tédio.
Manter contacto com amigos e família nunca foi tão fácil. E reencontrar gentes de outras vidas é um esforço de poucos cliques.
Mas a que preço? Estamos online o tempo todo. Estaremos realmente mais próximos? Proximidade disfarçada de conversas por mensagem. Redes sociais que criaram a sensação de vida real.
A sobrecarga de informação tem tudo para gerar ansiedade. Confusão. Desconforto. O cérebro pede menos estímulos em simultâneo. Menos notícias. Factos contraditórios. Teorias duvidosas. Separar o trigo do joio exige esforço. Tempo. Atenção.
Passarmos horas ligados pode dar-nos a sensação de estarmos ocupados. Mas não. Estamos só dispersos. Mais é menos. É certo. Mais impaciência. Menos paciência. Estamos tão habituados ao imediato que esperar passou a ser uma tortura. Um vídeo que demora a carregar cinco segundos?!
Mas qual privacidade? Cada clique é rastreado. Analisado. Transformado em publicidade. E quem pediu? Sabemos que estamos a ser observados. Continuamos a alimentar.
E agora? Voltamos atrás. Provavelmente, não. A solução não é abdicar da tecnologia. É saber quando pousa-la. Quem comanda quem. O telemóvel decide por nós. Tudo na palma da mão. Menos o essencial.
No fim de contas, a vantagem está na escolha. Usar com inteligência ou deixar andar. Opções...