Um dia comum de trabalho remoto
Supostamente o dia de trabalho começa às 09h00. Em trabalho remoto, pico o ponto sempre uns minutos antes. Ninguém vê e estes minutos extra podem dar jeito noutra altura qualquer.
Ao final do dia, pesa-me a consciência e reponho cada minuto.
Quando dou por mim, são 09h30 e ainda ando a navegar nos sites de notícias, podcasts, fofocas e email pessoal. É uma forma descarada ou discreta de protelar a oficial entrada de trabalho de mais um dia? Mas lá entro e começo a todo o gás.
Como o meu mercado é o internacional, o WhatsApp é uma das minhas principais ferramentas. Mas... antes de começar a responder às mensagens de trabalho, a troca de piadolas no grupo, que estão a marinar desde o dia anterior, não podem esperar mais. São prioridade nesta manhã. E já lá vão mais 15 minutos bem preenchidos.
Num instante, vou à cozinha buscar um copo, o jarro de água, prendo o cabelo e, agora sim, vamos lá começar.
E a máquina da roupa começa a apitar. Acabou. Vou já estender a roupa para não ficar a cheirar a humidade. São só mais uns minutos.
Preparo-me para me sentar na mesa da sala e tocam à campainha do portão. Entre calçar uns sapatos para ir lá fora, prender o cão, cumprimentar o senhor da distribuição, procurar o código da encomenda no telemóvel, dar o código ao senhor, receber a encomenda, dizer Boa tarde e até à próxima, esperar que se afaste, entrar em casa, voltar a tirar os sapatos, espreitar a encomenda, quem sabe experimentar... ufa... volto a sentar-me.
São quase 11h00. Sinto um rato no estômago. Levanto-me para descascar uma pêra e devoro-a. Não há tempo a perder.
Trabalho orgulhosamente até às 12h00. Zero interrupções e a sensação de que estou num dia altamente produtivo. Já despchei uma série de coisas. Como tal, sinto que mereço sair um bocadinho mais cedo para a pausa do almoço. E saio mesmo.
O horário de regresso é às 14h00, mas está tão bom na rua que piquei o ponto na App e não resisti a voltar para a rua mais uns minutinhos. Que importância tem? Afinal de contas, toda a gente sabe que os colaboradores felizes são muito mais produtivos.
São 15h00. Levanto-me sobressaltada porque estava tão focada no trabalho que me esqueci completamente de tirar o jantar do congelador e de pôr a sopa a fazer. Não é tarde nem é cedo. Descasco os legumes e risco a sopa da lista de prioridades do dia.
Às 16h00, saio para ir buscar os miúdos à escola. São só 20 minutos de carro... para cada lado. E mais uns 10 minutos à espera, à porta da escola. Prefiro ser eu a esperar por eles. Não gosto que andem a cirandar pela rua.
São 17h00. Sinto-me cansada. Foi um dia e tanto.
Atendo uma ou duas chamadas. Passo a sopa. Apanho a roupa, que entretanto ficou esquecida e já está tesa de tanto sol apanhar e ligo à minha colega do Departamento Financeiro que me tinha pedido que lhe ligasse com urgência, assim que começasse a trabalhar.
Pedi-lhe desculpa por só estar a ligar ao final do dia. Ela compreende. Possivelmente, tem tanto trabalho como eu. Estivemos uma hora ao telefone. Eram quase 18h30 quando desligámos.
Foi muito bom para descomprimir do stress e perceber que ela gostou tanto do evento semestral da empresa, na semana anterior, como eu. 👀